relatorios
António Firmino da Costa
Introdução
As dinâmicas sociais atuais voltaram a dar grande visibilidade às desigualdades, recolocando-as sob intensa atenção pública e analítica. A produção e disponibilização de indicadores a este respeito tem vindo a multiplicar-se, acompanhada por um número rapidamente crescente de estudos e pesquisas sobre diversos aspetos das desigualdades sociais contemporâneas. Esses indicadores, estudos e pesquisas têm vindo a ser elaborados por sociólogos, economistas e outros cientistas sociais, a partir de uma variedade de centros de investigação, institutos de estatísticas, associações cívicas e organizações internacionais.
No seu conjunto, estas análises recentes sobre o tema têm vindo a colocar em evidência a presença forte e o caráter transversal das desigualdades sociais contemporâneas, os diversos domínios em que elas se manifestam e as conexões que estabelecem com muitos outros aspetos da vida social, assim como a pluralidade complexa das suas causas e a ainda maior diversidade dos seus impactos, muitos deles com grande relevância social.
Em simultâneo, tem vindo a tornar-se também cada vez mais evidente a importância que, hoje em dia, as interdependências sociais globais (à escala planetária) assumem na configuração dos fenómenos contemporâneos de desigualdade social. Porém, essa importância do global nas desigualdades remete para vários fenómenos distintos, se bem que interligados, e para ângulos de análise diferentes, embora complementares entre si.
Assim, numa primeira formulação, e correndo o riso de simplificar muito, a noção de desigualdades globais pode aqui ser entendida como recobrindo os três seguintes planos: (i) o da presença crescente, nas múltiplas desigualdades observáveis em contextos locais e sociedades nacionais, de marcas e efeitos das relações sociais de âmbito global e suas assimetrias; (ii) o das desigualdades entre países, ou desigualdades internacionais, tal como elas