relatorio
O que é avaliar?
A avaliação entre cotidianidade e ritualismo
“No princípio era a Palavra”, diz São João.1 “No princípio era a Ação”, responde-lhe o Fausto, de Goethe.2 A história de aprendizagem da nossa linguagem reconcilia essas duas fórmulas. Todas as nossas palavras na primeira infância – também aquelas que resistem mais ao naufrágio da extrema velhice
– são palavras-ações, verbos que simbolizam primeiro gestos concretos. Não seria melhor então que nossa exploração gramatical começasse interrogando o verbo-ação? Avaliar “quer dizer” o quê? Avaliar “quer fazer” o quê?
A AVALIAÇÃO: A PALAVRA E AS FONTES
Mostramos em outro contexto3 a curiosa ambigüidade do termo avaliação, que surgiu apenas recentemente no léxico da reflexão pedagógica. Após algumas discretas menções, principalmente em textos de teóricos anglo-saxões, a palavra passou a ser utilizada na França, ao que parece, nos anos de 1970, quando os responsáveis pela formação contínua tentaram renovar seu vocabulário evitando as conotações excessivamente escolares (apreciação, notação, correção...) que, com toda razão, desagradariam seu público de adultos.
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Michel Barlow
É por isso que os dicionários “generalistas”, mesmo os mais recentes, ignoram solenemente o uso da palavra avaliar em matéria de educação.* Eles também revelam com muita serenidade todas as contradições e as ambigüidades que o verbo comporta em si. Avaliar, para um perito, é calcular com precisão uma determinada quantidade, em função de critérios definidos e, caso necessário, com a ajuda de instrumentos de medição. Assim, avalia-se, com vários decimais depois da vírgula, a taxa de gás carbônico, o lucro de uma operação na bolsa, o montante da taxa de valor adicionado e a inclinação da
Torre de Pisa. Mas avaliar pode ser também estimar aproximadamente uma quantidade, segundo modalidades que se evita determinar com precisão. Sabese muito bem, por exemplo, que o número de participantes de uma manifestação