Relato
Relato
Leia a matéria publicada na Revista Veja, no dia 20 de abril de 2011, e observe os relatos de pessoas que foram vítimas de bullying.
BULLYING – Dor, solidão e medo
Gabriela Carreli
Entre outras singularidades trágicas, o massacre de Realengo escancarou um fenômeno mais geral que atormenta milhões de estudantes em todo o país. Para as vítimas de agressões físicas e xingamentos, as marcas podem se perpetuar por toda a vida.
São muitas, irrepetíveis, inexplicáveis, inevitáveis e sombrias as motivações do covarde assassino de crianças de Realengo, no Rio de Janeiro. Seu funesto testamento, feito em cartas e vídeos, cita, porém, um fenômeno que, se não produz automaticamente assassinos e desajustados sociais, atormenta diariamente milhões de crianças — o bullying, termo em inglês popularizado no Brasil. Sob seu amplo significado abriga-se todo tipo de tortura física e psicológica de que são vítimas as crianças que têm como algozes seus próprios colegas.
Numa série de vídeos que Wellington Menezes de Oliveira gravou, enquanto planejava o ataque, ele disse que ia matar para expiar as humilhações que sofrera no colégio. Evidentemente, por piores que tenham sido as agressões impingidas a ele, elas não justificam nem explicam todo o bárbaro episódio, produto de uma mente perversa e doentia. O caso reforça, porém, a idéia de que o bullying não pode continuar a ser negligenciado pelas escolas brasileiras nem pelos pais. Em um lugar que deve funcionar como extensão da própria casa, alguns estudantes se tomam alvo preferencial de xingamentos, ameaças e agressões físicas. Não é uma violência qualquer. O bullying é executado pelos pares, ou seja, pelo grupo ao qual a criança ou o adolescente precisa pertencer e no qual deve se sentir um igual como parte do processo saudável de amadurecimento psicológico e de preparo para a vida adulta. Sentir-se preterido nesse momento crucial da vida é um castigo cujas marcas podem ser mitigadas, mas nunca serão