relato
A presente análise tem por finalidade apresentar a interação das vozes ideológicas na construção da consciência da figura masculina no conto “O Primo”. No decorrer da narrativa Trevisan mostra a ambiguidade do personagem Bento diante do grande conflito no centro de sua alma, deixando explicito como a sociedade e seus valores dominantes determinam os princípios morais dos indivíduos. No decorrer do trabalho serão abordadas teorias de Mikhail Bakhtin, onde afirma que consciência é engendrada pelas relações que os homens estabelecem entre si no meio social através da mediação da linguagem, além disso, ressalta ainda, que o homem constrói sua essência dentro das condições socioeconômicas objetivas de uma sociedade.
No decorrer da narrativa percebemos que o narrador utiliza um discurso indireto livre predominantemente, assim, toda a vocalidade da personagem masculina é carregada pelo próprio narrador, com o uso inalterável das defluências e façanhas internas de Bento, passando todas suas sensações e relações conflitantes, internas e externas. Dessa maneira, a personagem está alienada a sua própria consciência, onde a consciência é uma junção de centros de valores ativos, entretanto é também uma arena onde o conflito entre as vozes ocorrem, sendo que cada uma dessas vozes articula num certo modo de agir e está carregada de uma ação peculiar. Segundo Bakhtin a consciência não é um reino interior fechado e divorciado das relações sociais, pelo contrário, é o intercâmbio ativo, material do sujeito com outros sujeitos e, tal como a linguagem, é simultaneamente interior e exterior ao sujeito. Nesse sentido, a personagem principal da narrativa é nos apresentada como um ser completamente desvairado que, diante de seu conflito se vê perdido, a ponto de ser devorado por várias vozes que ele não consegue dominar, e é por meio desse conflito de vozes, que Bento designa novas concepções