Reconstruindo Malthus
Por Marcello Averbug - 30/04/2008
Em seu mais famoso livro, "Ensaio Sobre o Princípio da População", Thomas Robert Malthus (1766-1834) causou controvérsias ao prognosticar um destino de fome para a humanidade. Segundo ele, em decorrência de uma série de fatores, a população mundial cresceria em ritmo superior ao da oferta de alimentos. Felizmente essa tese não se confirmou e os casos de fome registrados ao longo da história não são explicados pela escassez de produtos alimentares, mas sim pela pobreza (o que não chega a ser um consolo).
Mas eis que, em pleno Século XXI, o espectro da fome provocada por insuficiente oferta de alimentos ronda a humanidade, embora por razões diferentes das apontadas por Malthus. Desde o início de 2007 verificam-se, em várias partes do planeta, tensões sociais e políticas provenientes de obstáculos ao acesso das classes menos favorecidas à compra de alimento. Esses obstáculos resultam da escalada dos preços de produtos como trigo, arroz, milho, soja, óleos vegetais, leite e carne. Segundo a FAO, o custo da refeição média, ao nível mundial, aumentou 40% ao longo de 2007. Evidentemente, essas altas afetam mais as camadas sociais de menor renda, cujos gastos em alimentação atingem elevada proporção do orçamento familiar.
Os países onde essas tensões se manifestam mais explicitamente localizam-se na África,
Ásia e, em menor escala, na América Latina - Egito, Marrocos, Costa do Marfim,
Mauritânia, Tailândia, Camboja, Vietnã, Indonésia, México e Haiti, entre outros. Também no Brasil constata-se que o preço dos alimentos está puxando a taxa de inflação. Dados de março revelam que o IPCA dos últimos 12 meses teve elevação de 4,73%, enquanto o item alimentos, pressionado pelo aquecimento da demanda interna e exportação, subiu 11,2%.
Cada país atingido pela crise tenta solucioná-la à sua maneira. Por exemplo: Camboja,
Vietnã, Índia e Egito reduziram ou suspenderam as exportações de arroz, a