Razão cartesiana e razão simbólica
J. C. Avelino da Silva**
Resumo: o texto discute o uso do método cartesiano para as Ciências da Religião. Simbolismo e racionalismo são modos bem diferentes de representação da realidade. Em vez de utilizar o método racionalista para compreender o simbolismo, corre-se o risco de utilizar o método para mostrar que a visão simbólica de mundo está errada, o que não compete a um cientista da religião. Respeitando o mito, eu posso utilizar o cartesianismo para duvidar das minhas conclusões sobre o mito, mas não posso utilizá-lo para duvidar da visão de mundo adotada pelo mito.
Palavras-chave: Simbolismo. Racionalismo. Cartesianismo. Ciências da Religião.
Todo esforço de se pensar uma realidade adota um sistema de referência e passa também pela subjetividade de quem está pensando. Eu falo deste lugar: a pós modernidade cartesiana em Goiânia, apesar do meu esforço de adotar um discurso atópico e atemporal. Eu só posso olhar o passado a partir de minhas próprias percepções, a partir da certeza dos meus valores, apesar do esforço para aceitar valores outros que não os da minha formação cultural. Para compreender os valores adotados no mundo grego
* Recebido em: 06.06.2011. Aprovado em: 16.06.2011.
** Doutor pela Universidade de Paris. Professor no Departamento de Filosofia e Teologia e no Doutorado em Ciências da Religião da PUC Goiás. Membro da International Association for Greek Philosophy. E-mail: avelino3@uol.com.br
Fragmentos de Cultura, Goiânia, v. 21, n. 7/9, p. 375-387, jul./set. 2011.
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antigo, na sua pura originalidade, cujas referências que mais se destacam
(mas não únicas) eram solução prática e simbolismo, é necessário fazer um esforço de superação dos meus padrões.
Dominados por um mundo tecnológico e cientificista, a tendência natural do estudioso do simbolismo – seja o acadêmico, seja o amador interessado – é contrabandear para o mito uma lógica que não é própria dele. Entretanto, quanto mais