Quincas Borba
Textos literários em meio eletrônico
Quincas Borba
, de Machado de Assis
Núcleo de Pesquisas em Informática, Literatura e Lingüística
(http://www.cce.ufsc.br/~alckmar)
Texto-fonte:
Obra Completa, de Machado de Assis, vol. I, Nova Aguilar, Rio de Janeiro, 1994.
Disponível na Virtual Bookstore
Livros e literatura na Internet http://www.elogica.com.br/virtualstore CAPÍTULO PRIMEIRO
RUBIÃO fitava a enseada, - eram oito horas da manhã. Quem o visse, com os polegares metidos no cordão do chambre, à janela de uma grande casa de Botafogo, cuidaria que ele admirava aquele pedaço de água quieta; mas, em verdade, vos digo que pensava em outra cousa. Cortejava o passado com o presente. Que era, há um ano? Professor. Que é agora? Capitalista. Olha para si, para as chinelas (umas chinelas de Túnis, que lhe deu recente amigo, Cristiano Palha), para a casa, para o jardim, para a enseada, para os morros e para o céu; e tudo, desde as chinelas até o céu, tudo entra na mesma sensação de propriedade.
"Vejam como Deus escreve direito por linhas tortas", pensa ele. Semana Piedade tem casado com Quincas Borba, apenas me daria uma esperança colateral. Não casou; ambos morreram, e aqui está tudo comigo; de modo que o que parecia uma desgraça...
CAPÍTULO II
QUE ABISMO que há entre o espírito e o coração! O espírito do ex-professor, vexado daquele pensamento, arrepiou caminho, buscou outro assunto, uma canoa que ia passando; o coração, porém, dei-xou-se estar a bater de alegria. Que lhe importa a canoa nem o canoeiro, que os olhos de Rubião acompanham, arregalados? Ele, coração. vai dizendo que, uma vez que a mana Piedade tinha de morrer, foi bom que não casasse; podia vir um filho ou uma filha... - Bonita canoa!-Antes assim!-Como obedece bem aos remos do homem!-O certo é que eles estão no céu!
CAPÍTULO III
UM CRIADO trouxe o café. Rubião pegou na xícara e, enquanto lhe deitava açúcar, ia disfarçadamente mirando a