Quem descobriu o brasil
Mas ainda me lembro das minhas aulas na faculdade de letras, quando um fantasma pairava sobre Cabral. O fantasma chamava-se Duarte Pacheco Pereira, e a polêmica durava cem anos por causa de uma obra do famoso navegador e cartógrafo revelada em 1892.
No seu "Esmeraldo de Situ Orbis", Duarte Pacheco dava conta da existência de "terra firme" a Ocidente, e de "muitas e grandes ilhas adjacentes a ela", para quem fosse "além" da grandeza do "mar oceano". Ano da viagem: 1498.
Pergunta inevitável: teria sido Duarte Pacheco o verdadeiro descobridor do Brasil, dois anos antes de Cabral?
Os historiadores subiram ao ringue: havia quem dissesse que sim (Jaime Cortesão, por exemplo). Havia quem dissesse que não: a obra fora escrita depois da viagem de Cabral, e a incorporação de "terra cabralina" no relato era suspeita, para dizer o mínimo.
Ao longo dos anos, fui lendo tudo sobre a polêmica com curiosidade amadora. Até encontrar, em feliz acaso, uma notável entrevista com o historiador Francisco Contente Domingues no jornal português "Público". Vale a pena ler a entrevista.
Mas, sobretudo, vale a pena ler o livro que Domingues escreveu sobre Duarte Pacheco. Intitula-se "A Travessia do Mar Oceano: A Viagem ao Brasil de Duarte Pacheco Pereira em 1498" (Tribuna da História; R$ 29; 112 págs.). É a mais inteligente interpretação sobre o caso que conheço.
Ponto prévio: o historiador Contente Domingues não põe em causa a veracidade da viagem. Mas, antes de atribuirmos a primazia da descoberta do Brasil a Duarte Pacheco, é preciso perguntar duas coisas. Em primeiro lugar, o que significa "descobrir". E, em segundo, o que pensou o próprio Duarte Pacheco ter "descoberto" em 1498.
A resposta implicou um retorno ao "Esmeraldo de Situ Orbis", mas também