Quaresma
O tempo de quaresma é diferente. Há algo de diferente, de místico, que a gente sente, mas, às vezes, não valoriza.
Sonia Sirtoli Färber I clafarber@uol.com.br
Quaresma
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Pra muita gente, quaresma é um tempo sem graça, que tem que ser vencido e não vivido. Também, pudera... há que se fazer um esforço para alcançar a riqueza dessa época. Porque o emergente, o epidérmico, remete a sofrimento e, sem a devida explicação, parece ter um quê de masoquismo. Quando a realidade é bem diversa.
V
ocê já reparou como o tempo de quaresma é cinza? Já começa com quarta-feira de cinzas. Contemporaneamente acaba o horário de verão, e o dia volta a
“ser mais curto”. Além disso, acontece no início do outono. Pra quem já é avesso a essa época tudo parece incômodo.
Mas o cinza é tão lindo! Cinza é o gatinho manhoso. Cinza é promessa de neve. É chuva que não tarda. É convite para aconchego, suéter de lã e abraço. O problema não está na cor, mas nos olhos!
Seja lá como for, por que será que quaresma é tão “pesada”? Talvez, porque ainda não tenhamos alcançado a profundidade do manancial de graças que emerge nesse período.
A maioria de nós traz, no imaginário, noções muito sombrias da quaresma. Muitas gerações foram catequizadas sob o signo do medo, e quaresma era um verdadeiro tabu. Quem já não ouviu a sentença: “Dançar na
quaresma vai “criar rabo”? Quem já não ouviu “causos” de pessoas que foram a uma festa e se encontraram com o capeta? Daí, também pudera... quem não teria medo! Difícil é aguardar o término da quaresma se a observa por medo, por cumprir uma lei que não foi bem entendida. Aí é duro, mesmo!
A pedagogia do medo fez com que construíssemos uma visão distorcida do significado e, especialmente, do valor dessa época.
Então, não é necessário guardar a quaresma? Claro que devemos guardar!
Mas pelos motivos certos, compreensíveis, que não insultem nossa razão, nem nossa espiritualidade.
Esse é um tempo que, com amor e zelo, deve ser respeitado, mas por amor, não por medo.