Quaresma
A Igreja abre a Quaresma com o Rito da Imposição das Cinzas, lembrando-nos assim, a nossa condição mortal: “Memento, homo, quia pulvis es, et in púlverem revertéris”, Lembra-te, ó homem, que és pó, e que em pó te hás de tornar (Gn 3,19). Quer recordar-nos também do quanto somos necessitados da misericórdia do Senhor, como reza uma antiga oração de bênção das cinzas: “...abençoe e santifique essas cinzas, para que sirvam de remédio salutar a todos os que humildemente invocam o vosso Santo Nome, e se reconhecem culpados, deplorando, diante da vossa Divina Clemência, os seus pecados, e pedindo instantemente a vossa misericórdia”.
Não existe Quaresma sem esforço pessoal de mudança e toda mudança, como bem sabemos, passa pela penitente purificação dos sentidos. Nesse sentido podemos compreender porque a Quaresma é um tempo propício para a prática do jejum e da mortificação. Desprovido desse sentido, podemos correr o risco de ficarmos na penitência pela penitência, ou por outro lado, buscarmos todo tipo de desculpa para fugirmos dela.
Podemos dar ainda outro sentido à penitência que é o da solidariedade. Ao nos privarmos determinados dias de alimento ou ao nos privarmos de determinados alimentos, estamos nos unindo às multidões daqueles que são privados do alimento cotidiano.
Juntamente com a penitência, a Igreja nos recordará durante todo esse tempo a necessidade da Oração. A oração sempre foi o meio pelo qual na história Deus interveio em prol do seu povo. Ela é o penhor de uma providência que jamais falha ou se desmente. Entre tantos exemplos, cito aqui o emocionante episódio da vida de Ezequias: Quando o profeta Isaias comunicou ao rei Ezequias que ele morreria, o rei voltou o rosto para a parede, e em meio às lágrimas assim orou ao Senhor: “Peço-vos, Senhor, que Vos lembreis de como tenho andado