QUANDO O ‘EU’ POÉTICO DESVELA O MUNDO SOCIAL
QUANDO O ‘EU’ POÉTICO DESVELA O MUNDO SOCIAL
Trabalho submetido como requisito para aprovaçäo na disciplina Correntes da
Teoria Literária, sob orientação da
Profª. Gisele Frighetto
SÃO PAULO
2013
INTRODUÇÃO
O poema de Carlos Drummond de Andrade, Carrego Comigo, pertence à obra A Rosa do Povo de 1945 a qual, em alguns poemas, apresenta mais claramente uma postura militante, de observador de sua época, e outros com uma postura mais centrada no indivíduo. Assim, o conjunto de poemas apresentado nesta obra “reflete um ‘tempo’, não só individual mas coletivo no país e no mundo” (ANDARDE, 1991, NA).
O poema a ser analisado, Carrego Comigo, parece mesclar as duas linhas de forma bastante equilibrada e, apesar da minha escolha por este poema ser de cunho mais subjetivo e individual, em que o ‘eu’ poético me fez observar o que carrego em mim, decidi manter a via sociológica já que a obra como um todo pede este tipo de análise, todavia explicada pela via de reflexão existencial utilizando basicamente de recursos estilísticos para tentar chegar a um aprofundamento do entendimento da obra.
I ANÁLISE LITERÁRIA FORMAL DO POEMA CARREGO COMIGO
Carrego comigo há dezenas de anos há centenas de anos o pequeno embrulho.
Serão duas cartas? será uma flor? será um retrato? um lenço talvez?
Já não me recordo onde o encontrei.
Se foi um presente ou se foi furtado.
Se os anjos desceram trazendo-o nas mãos, se boiava no rio, se pairava no ar.
Não ouso entreabri-lo.
Que coisa contém, ou se algo contém, nunca saberei.
Como poderia tentar esse gesto?
O embrulho é tão frio e também tão quente.
Ele arde nas mãos, é doce ao meu tato.
Pronto me fascina e me deixa triste.
Guardar um segredo em si e consigo, não querer sabê-lo ou querer demais.
Guardar um segredo de seus próprios olhos, por baixo do sono, atrás da