qualquer coisa

Qualquer pesquisa
São Paulo, domingo, 19 de dezembro de 1999

No domingo passado, reportagem na capa do caderno Empregos, com chamada na Primeira Página, afirmava que 41% dos executivos que trabalham em São Paulo não moram na capital, de onde fugiram em busca de melhor qualidade de vida.
Quem leu a reportagem inteira constatou que se tratava de pesquisa de uma consultoria com 511 entrevistados. Nada era informado sobre a metodologia do levantamento.
Uma semana antes, o TV Folha havia anunciado em sua capa que as "pegadinhas" de um determinado programa popularesco são consideradas pelo público as piores de televisão. A fonte era uma enquete com menos de cem pessoas.
O mesmo caderno, há cerca de um mês, decretara que as mulheres não estão mais interessadas em programas que ensinam receitas culinárias, dicas de maquiagem e dietas milagrosas. A base para tal afirmação era um estudo qualitativo com um grupo de mulheres. De que faixa de renda? Escolaridade? Ocupação profissional? Nada disso era explicado.
Os três exemplos revelam o mesmo problema: é cada vez mais frequente encontrar no jornal levantamentos de escopo limitado sendo tratados pela edição como se fossem pesquisas abrangentes, cujos resultados podem ser transportados para segmentos da população ou mesmo para seu conjunto.
Não fosse por mais nada, os anos de convivência profissional com os técnicos do Datafolha deveriam ter ensinado à Redação que a coisa não pode ser feita dessa maneira.
Relação entre número de entrevistados e tamanho do universo pesquisado, proporcionalidade da amostragem e período em que o campo foi realizado são alguns dos fatores que devem ser levados em conta para avaliar a representatividade dos resultados.
Também é relevante saber se as entrevistas foram feitas pessoalmente ou por telefone, e conhecer o questionário para verificar se ele é indutivo, seja no conteúdo das perguntas, seja em sua ordenação.
São preocupações que não parecem em alta entre os jornalistas.