Psicose Que Clinica Esta
Adriana Emídio
O presente trabalho nasce da inquietação sobre o manejo da clinica com psicóticos, devido há algumas experiências na clínica. Essas experiências colaboraram para um novo ver e novo conhecer deste universo psíquico aparentemente vago, furado, que é o universo do psicótico, e que ao mesmo tempo mostra-se um universo recheado de conteúdos, embora não simbolizáveis, mas peças soltas que constituem a realidade de um humano que está ali e que precisa ser ouvido como um outro, mesmo que sua fala seja despedaçada a nosso ver e a nossa escuta.
Então que clinica é esta?
O trabalho clínico com a psicose, cada vez mais se torna necessário à busca de alternativas que escapem às formas de tratamento que apenas lidam com o paciente psicótico a partir do saber próprio da ciência, reafirmando a posição deste paciente como objeto. No caso específico do trabalho psicanalítico com a psicose, esta clínica teve início com impasses que pareciam ser insuperáveis. As dificuldades do trabalho com pacientes psicóticos levou Freud a contraindicar a psicanálise para esta clientela por várias vezes.
Como exemplo, no texto de 1904 – Sobre a psicoterapia – no qual Freud afirma que “as psicoses (...) são impróprias para a psicanálise, ao menos tal como tem sido praticada até o momento” (1904/1996, p.250). O principal motivo levantado por
Freud (1915/1996) para tal contraindicação é que na psicose há um abandono das relações objetais. Pode-se observar a diferença entre as denominações dos quadros psíquicos dados por Freud: a paranoia e a esquizofrenia seriam neuroses narcísicas, em oposição à histeria e à neurose obsessiva, neuroses de transferência (GUERRA,
2010).
A modificação necessária foi tentada por Lacan que, já em seus primeiros passos na psicanálise, se via às voltas com a psicose. O caminho de Lacan
(1977/2010) na psicanálise o levou à celebre frase: “a psicose é aquilo frente a qual um analista não deve retroceder em nenhum caso” ( LACAN,