O SINTOMA NA CLÍNICA PSICANALÍTICA: ADVERSÁRIO OU ALIADO? Flávia Lana Garcia de Oliveira As questões que pretendo desenvolver neste trabalho são suscitadas pelas seguintes perguntas: qual a função do sintoma no psiquismo? Como explicar sua persistência ao longo do tratamento? Para a psicanálise o sintoma é um adversário ou um aliado? Em outras palavras: é um problema ou uma solução? A partir do aporte conceitual freudiano-lacaniano espero poder ressaltar duas vertentes: o sintoma como mensagem cifrável endereçada ao grande Outro e o sintoma como um modo de gozo. Ao procurar um psicanalista, o sujeito traz como queixa o sofrimento que lhe provoca seu sintoma. Este é visto como algo incômodo, que o acomete a despeito de sua vontade. Assim, sua demanda inicial é a de cura, podendo nutrir a expectativa de que, no curso da análise, será libertado do mal-estar sintomático que o aprisiona. Esta mesma demanda pode ser dirigida a um psiquiatra ou a um psicoterapeuta. O que é decisivo para que estejamos no campo da psicanálise é que este sujeito acredite que seu sintoma comporta alguma verdade e, a propósito disto, recorra à figura do analista como aquela que supostamente possui este saber que lhe escapa. O sintoma é mais que uma disfunção a ser reparada, ele ensina algo sobre a causalidade do sujeito. Esta é a percepção inaugurada por Freud ao fundar a psicanálise. Na trilogia A interpretação dos sonhos, de 1900, A psicopatologia da vida cotidiana, de 1901, e Os chistes e sua relação com o inconsciente, de 1905, a tese freudiana é unívoca: os sintomas, assim como, os sonhos, os atos falhos e os chistes, são idênticos quanto à função que desempenham no psiquismo. São formações de compromisso resultantes do conflito entre a sexualidade infantil recalcada, de um lado, e as exigências da realidade moral imposta pela cultura, do outro.
Nesse momento, há, para Freud, uma estreita correlação entre o que é recalcado e o que é inconsciente. Com o recalque, o complexo edipiano