Psicologia
Setenta e cinco anos passados, a página com que Lukács abre sua Teoria do romance conserva toda a força evocativa: Felizes os tempos que podem ler no céu estrelado o mapa das vias que lhe siio abertas e que eles devem percorrer. Felizes os tempos cujavias estão iluminadas pela luz das estrelas. Para eles tudo é novo e, no entanto, familiar; tudo significa aventura e entretanto tudo lhes pertence. O mundo é vasto e nele. contudo, encontram-se à vontade, pois o fogo que arde nas almas é da mesma natureza do das estrelas. O mundo e o eu, a luz e o fogo distinguem-se nitidamente e, apesar disso, nunca se tornam definitivamente estranhos um ao outro. pois o fogo é a alma de toda luz e todo o fogo se reveste de luz. Assim, não há nenhum ato que não adquira plena significação e que não se complete nesta dualidade: perfeito em seu sentido e perfeito pnra os sentidos. ([ 1914-1915/1920) 1963; p.l9) Não importa que estas palavras não sejam uma tradução fiel da experiência grega na época das grandes epopéias. Não importa que a experiência do mundo nas 'civilizações fechada. apareça ai idealizada. Importa sim ouvir, por detrás desta evocação maravilhada e nostálgica, a perplexidade do jovem intelectual húngaro num tempo de muitas promessas e muitas ameaças. tempo finalmente imerso num processo aparentemente irreversível de esfacelamento e desmoralização. Escrito durante a Primeira Grande Guerra. o texto de Lukács está impregnado pela atmosfera de "desespero permanente diante da situação mundial" e pela questão de saber "quem salvará a civilização ocidental''. conforme as palavras do autor numa introdução redigida em 1962.
Expulso do paraíso das civilizações fechadas, o homem da modernidade colhe no tempo de Lukács o fruto mais amargo da abertura do mundo. da expansão cósmica das suas possibilidades, da mutiplicação infinita dos seus enigma: a desorientação, o caos, a guerra total. Houve um tempo, porém em que a abertura do