Psicanálise
1. INTRODUÇÃO
A psicanálise, nos seus primórdios, parte de uma visão compreensiva dos fenômenos psíquicos – pois propriamente clínica – que buscava uma forma de tratamento da histeria. A histeria constituiu-se no seu objeto de pesquisa, pois era nela que se evidenciava de modo cabal esse fenômeno compósito e enigmático denominado “neurose”, esse “mal-estar” tão disseminado que perturbava a vida civilizada nas sociedades industriais do século XIX e XX.
Essa era a Esfinge de seu tempo e Sigmund Freud (1856-1939) foi seu
Édipo, seu decifrador. Contudo, essa clínica inovadora situava-se nos limites da medicina de sua época, pois supunha sempre uma etiologia de fundo físicoquímico, isto é, redutível à ciência física, e não afeita à questão hermenêutica.
O tratamento da histeria pela hipnose e o posterior estabelecimento da etiologia sexual das neuroses - afecções da alma infensas à terapêutica médica tradicional - conduziram ao ponto de viragem da nascente teoria freudiana. A técnica da hipnose foi sem dúvida um avanço para a época e, embora encarada com reserva no meio médico, ela ocupava com vantagem o lugar das abordagens pretensamente científicas do passado, baseadas na morfologia anatômica - como, por exemplo, a frenologia ou cranioscopia de Franz Joseph Gall (1758-1828).
Será que Freud intencionava essa solução que mistura compreensão e análise, como indica a terminologia empregada na descrição de sua disciplina?
Em termos epistemológicos, o quê isso tudo significou para a construção de um campo até então inexistente, o da psicanálise?
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Os aspectos teóricos a serem tratados a seguir – sobre a metafísica, o reducionismo biológico, e a etiologia sexual das neuroses – referem-se às fontes históricas do pensamento freudiano. As asserções do próprio Freud sobre o estatuto epistemológico da psicanálise seguem o desenvolvimento cronológico de seu pensamento até 1937, dois anos antes de seu falecimento.
2. QUESTÕES EPISTEMOLÓGICAS