provão
O discurso diz muito mais do que seu enunciador pretende. “A multiplicidade de sentido é inerente à linguagem” (ORLANDI, 1988, p. 20).
Veja um caso que aconteceu em sala de aula. O título de uma reportagem de jornal foi oferecido a um grupo, para que cada um dissesse qual seria o teor do texto “Sementes do
Suicídio”.
Os sentidos oferecidos pelo grupo foram: descoberta de uma semente que mata; uma pessoa, sentindo-se ofendida, suicidou-se, a ofensa foi a semente que gerou o suicídio; a violência sofrida por alguém gera sementes de ódio e pode levar ao suicídio.
O que você entende por este título? Sua compreensão foi semelhante à do grupo?
Veja o que aconteceu. Na verdade, o texto falava sobre uma pesquisa feita pela indústria da
Monsanto, para deixar inférteis as sementes de frutas. Essas frutas foram obtidas através de várias experiências, resultando perfeitas quanto ao tamanho, ao sabor, à cor, à textura. Quem desejasse plantar essas sementes não conseguiria reprodução. Essa foi a forma encontrada pela empresa para proteger sua pesquisa.
Aí está a multiplicidade de sentido. Os alunos criaram hipóteses de leitura. Em seguida, refizeram o seu caminho e atribuíram outro sentido, mais outro, construindo uma rede. A falha, o furo, no caso do exemplo, está no fato de os alunos empregarem a palavra "semente" em sentido figurado, quando, na verdade, ela estava sendo empregada no sentido literal.
Quando se fala em interdiscurso, faz-se referência ao que se fala antes, em outro lugar, o que foi importante para cada leitor trazer o conhecimento que possui em relação às palavras
"semente" e "suicídio", para levantar hipóteses de desenvolvimento da reportagem. Esse conhecimento forma o conhecimento de mundo ou conhecimento enciclopédico que cada indivíduo acumula ao longo de sua experiência linguística.