Projeto Unesco década de 50
Em abril de 1950, o antropólogo Alfred Métraux, com larga experiência de trabalho etnológico (índios e negros) tanto na América do Sul quanto na América Central, assumiu a direção do recém-criado Setor de Relações Raciais do Departamento de Ciências Sociais da Unesco (Métraux, 1978). Ainda no primeiro semestre de 1950, o antropólogo Ruy Coelho, ex-aluno de Roger Bastide na Universidade de São Paulo, e de Melville Herskovits na Universidade de Northwestern — onde defendeu tese de mestrado sobre os Caraíba negros em Honduras —, tornou-se o principal assistente de Métraux. Os dois cientistas sociais foram os dirigentes da Unesco responsáveis pela coordenação do projeto de pesquisa a ser realizado no Brasil.
O Projeto Unesco contemplaria, de início, apenas a Bahia (Métraux, 1950). Para isso concorreu a existência de uma longa tradição de estudos sobre o negro na cidade de Salvador desde o final do século XIX, na qual se destacava o exame da forte influência da cultura africana. O cenário baiano parecia adequado aos propósitos da Unesco. A cidade, com expressivo contingente de negros, havia atraído, nos anos 30 e 40, diversos pesquisadores estrangeiros e era vista como um lugar privilegiado em termos de convívio entre as raças (Landes, 1947; Frazier, 1942; Pierson, 1942; Herskovits, 1943). Acrescente-se o fato de que surgiu uma excelente oportunidade no começo da estruturação do Projeto Unesco. Menos de duas semanas após a decisão de Florença, em junho de 1950, Charles Wagley estabeleceu contatos com a instituição. Desde o final dos anos 30, o antropólogo norte-americano tinha estreitas ligações com o Brasil, seja no estudo de comunidades indígenas, seja por meio da aliança Brasil-EUA nos esforços concernentes à Segunda Guerra Mundial, trabalhando no Serviço Especial de Saúde Pública (SESP), ou, ainda, no envolvimento com um estudo de comunidade na Amazônia patrocinado pela Unesco (Wagley, 1957).
Métraux foi informado por Wagley,