PROFISSAO
CONTRADIÇÕES E PERSPECTIVAS
Texto organizado com base nos estudos de pós-doutorado realizados pela autora na Universidade Complutense de Madri (Espanha), com apoio do CNPq. Parte da investigação denominada "A profissionalização docente na nova ordem cultural e paradigmática: Desafios do fim do século".
AUTORA: Maria Isabel da Cunha
REFERÊNCIA DO TEXTO:
CUNHA, Maria Isabel da. Profissionalização docente: contradições e perspectivas. In: VEIGA, Ilma Passos Alencastro; CUNHA, Maria Isabel da (Orgs.). Desmistificando a profissionalização do magistério. Campinas, SP: Papirus, 1999.
O discurso da profissionalização docente, que há alguns anos começou a tomar corpo nos países desenvolvidos, parece estar definitivamente entre os mais abordados nas discussões pedagógicas da atualidade, no Brasil. A crise que assola a educação formal tem profundas repercussões na definição do papel docente, em sua conformação e expectativas.
O professor é, hoje, posto em xeque, principalmente por sua condição de fragilidade em trabalhar com os desafios da época. Entre eles, talvez os mais significativos sejam as novas tecnologias de informação, a transferência de funções da família para a escola e a lógica de produtividade e mercado que estão definindo os valores da política educacional e até da cultura ocidental contemporânea.
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Historicamente, o professor construiu para si, cumprindo a expectativa da sociedade, a idéia de que sua função era ensinar um corpo de conhecimentos estabelecidos e legitimados pela ciência e pela cultura, especialmente pelo valor intrínseco que representavam. O caráter pragmático e utilitário desse conhecimento poderia até ser objeto da escolarização como decorrência da construção teórica, mas não como princípio.
Mesmo que do professor se esperasse um comportamento ético que supusesse uma transmissão de valores, a principal tarefa de educar para a cidadania, incluindo hábitos e valores morais, estava a cargo da