proclamaçao da republica

Proclamação da República
J. B. Libanio
Faculdade D. Hélder – 14 de novembro 2008
A pós-modernidade tem embaralhado as cartas do público e do privado de tal maneira que olhar in-perspicaz não consegue distingui-las. Irrompe alguém com o automóvel pela autopista pública e ei-lo retido por uma guarita que lhe cobra pedágio. Sussurram-lhe: está privatizada.
Aprende-se desde criança que as relações íntimas de amor entre as pessoas guardam o recato da privaticidade. E, de repente, bancas de jornais, casais em praça da cidade expõem ao olhar público cenas do mundo privado. O programa Big brother leva ao extremo a inversão, ao rasgar despudoradamente o véu das intimidades diante de milhões de doentios voyeurs em voluntário exibicionismo afetivo e sexual.
Em tal contexto cultural, o termo Res-publica confunde-nos. A etimologia acentua a “coisa pública”. Lá no berço histórico e semântico, foi ela acalentada no coração da “polis”, da cidade. O adolescente romano, afeito durante a infância ao culto dos deuses tutelares do lar (lares), depunha a toga infantil e vestia a toga varonil para oferecer sacrifício ao deus da cidade, iniciando a vida política. Doravante podia carregar as armas, participar das cerimônias da religião oficial, dos sacrifícios e refeições públicas em honra das divindades. Era um republicano, homem da coisa pública.
Criava-se assim desde cedo no jovem a consciência de que a política, de polis-cidade, é res-publicana, gerencia as coisas públicas. E que está a acontecer no coração da República do Brasil? Escandalosa privatização do Estado, de empresas estatais, de bens comuns, de lugares e coisas públicas, além da corrupção por meio da qual membros dos três poderes se apossam de bens públicos como de pertences privados.
Recentemente vivemos mais um turno de eleições. Sentiu-se na população enorme desinteresse. Não por culpa do povo. Mas por força das manchetes de jornal e TV que cada dia nos põem em contacto com alguma mazela de políticos, sediados em