Primo Levi
Estudos da Violência da
UNESP/Marília
Ano 2013 – Edição 11 – Maio/2013
ISSN 1983-2192
CAMPO DE EXTERMÍNIO(S): O “MUÇULMANO”
COMO PARADIGMA DA VIDA NUA
BRAVO, Guilherme Pigozzi1
Resumo: Este artigo pretende abordar, a partir do relato de Primo Levi, sobrevivente de Auschwitz, e das reflexões empreendidas por Hannah Arendt e
Giorgio Agamben, o quanto, em um campo de extermínio, podem-se degradar tanto a vida quanto a morte de um ser humano submetido a privações e sofrimento. Tal degradação, que se inicia fora do campo e se completa nele, ocorre em um plano em que todas as ações e etapas obedecem a uma lógica funcional, a uma organização meticulosa e cuidadosamente programada, no sentido de desprover a vida humana a ela submetida de qualquer traço de espontaneidade e dignidade. “Muçulmanos”, assim eram denominados todos aqueles considerados “fracos”, “ineptos”, verdadeiros cadáveres ambulantes.
Palavras-Chave: Muçulmano; Auschwitz; Extermínio;
Abstract: This article intends to consider, on the report of Primo Levi, a survivor from Auschwitz, and on the reflections by Hannah Arendt and Giorgio Agamben, how both life and death of a human being submitted to deprivation and suffering can be degraded, in an extermination camp. Such degradation, which starts out of the field and in it is completed, occurs in a stage in which all actions and steps obey to a functional logic, to a painstaking organization carefully designed in order to deprive the human life to it subjected off any trace of spontaneity and dignity.
"Muslims" - so were named all those who were considered "weaks", "inepts", real wandering corpses.
Key-Words: Muslim; Auschwitz; Extermination
Introdução: o “Muçulmano”
O termo “muçulmano” era utilizado pelos internos dos campos de extermínio para designar a pessoa que atingira um estágio de completa perda da consciência, da espontaneidade e de qualquer vontade de viver. No entender de
Giorgio