Primeiro capítulo
As concepções do mundo não podem deixar de ser elaboradas por espíritos eminentes, mas a realidade é expressa pelos humildes, pelos simples de coração. Antonio Gramsci, Obras escolhidas, 1978.
Síntese deste capítulo
O pensamento dos primeiros sociólogos no século xix. Os princípios de organização da sociedade, da concepção de realidade e de ciência, na perspectiva analítica dos clássicos da Sociologia. A proposta de integração social de Durkheim. Weber e o processo de racionalização social. O pensa mento de Marx no entendimento das contradições sociais. O processo de investigação da realidade social e a especificidade desse objeto de estudo.
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Sociologia
Questões sociológicas pertinentes: pluralidade de métodos, dicotomias tradicionais, polêmicas usuais, novos objetos. O movimento da ciência sociológica sobre sua própria produção demonstra seu caráter histórico. A modernidade e a reflexividade presentes na ciência.
Seriam os deuses sociólogos? Como na mitologia grega, pródiga em apresentar os deuses com um estatuto excepcional e heterogêneo a um só tempo, se confrontados com os mortais, na ciência, os clássicos têm privilégio semelhante no conjunto dos pensadores. A supremacia dos deuses ultrapassa sistematicamente a condição humana. Os deuses são vistos como sendo outros, porque, além de serem maiores, poderosos e mais sábios que os homens, eles expressam essa diferença de uma forma particular, como revelam os versos de Homero, na Ilíada (canto viii, v. 143144): “Nenhum mortal poderia penetrar o pensamento de Zeus; por mais orgulhoso que fosse, Zeus o venceria mil vezes” (Sissa e Detienne, 1990, p. 43). Zeus é um clássico. Os pensadores de primeira hora da Sociologia são considerados clássicos porque o seu pensamento ainda tem poder explicativo, sua vitalidade interpretativa alcança a era contemporânea, embora apresente limitações. Assim como os deuses gregos, excepcionais e heterogêneos, os clássicos não explicam