Preconceito
As crianças negras sofrem situações de discriminação na escola e nos centros de Educação Infantil. Na maioria das vezes paira um silêncio revelador da desigualdade de tratamento oferecido às crianças brancas e negras
Por Cisele Ortiz
Revista Avisa Lá
Imagens: Reprodução
Temos uma amiga negra, a Ba, que ainda hoje, aos 40 anos, lembra-se da primeira vez em que a diferença de cor foi motivo de tratamento discriminatório. No jardim da infância que freqüentava, uma criança branca perdeu sua pulseira de ouro e sua mãe foi à escola reclamar exigindo conversar com a mãe de Ba. Nossa amiga não esteve presente e nunca conversou sobre isso com a sua mãe, mas sabe que o conteúdo da conversa foi uma acusação de roubo. Na época, Ba intuiu que estava sendo acusada por ser a única menina negra da classe.
As crianças brancas logo descobrem o poder de suas palavras e de seus xingamentos, as referências negativas à cor da pele (neguinha, carvão) e ao cheiro (fedorenta), associam a cor preta à sujeira (não toma banho) e as usam principalmente como uma arma em situações de disputa, de conflito. Como não são repreendidos pelos professores, acabam reproduzindo a situação inúmeras vezes, como que autorizados” por eles. Por outro lado, as crianças negras tendem a silenciar cada vez mais e a fugir das situações de conflito e de disputa, isolando-se.
Quando reagem, às vezes de maneira desproporcional, sem controle, são criticadas e advertidas. Assim, vão silenciando cada vez mais. Esta situação gera um círculo vicioso difícil de ser rompido sem ajuda. Entre os professores há silêncio também. Não falar sobre as situações de racismo, preconceito e discriminação na escola faz com que o problema pareça não existir.
Se, por um lado, a atitude de silêncio dos professores diante de situações de humilhação entre as crianças é uma tentativa de considerá-las como “naturais” ou “individuais”,