Positivismo
O Diário de uma garota (Record. Maria Julieta Drummond de Andrade) é um texto que comove de tão bonito. Nele o leitor encontra o registro amoroso e miúdo dos pequenos nadas que preencheram os dias de uma adolescente em férias, no verão antigo de 41 para 42.
Acabados os exames Maria Julieta começa seu diário anotado em um caderno de capa dura que ela ganha já usado até a página 49. É a partir daí que o espaço é todo da menina que se propõe a registrar nele os principais acontecimentos destas férias para mais tarde recordar coisas já esquecidas.
O resultado fi nal dá conta plena do recado e ultrapassa em muito a proclamada modéstia do texto que ao ser concebido tinha como destinatária única a mãe da autora a quem o caderno deveria ser entregue quando acabado.
E quais foram os afazeres de Maria Julieta naquele longínquo verão? Foram muitos. Pontilhados de muita comilança e de muita leitura: cinema, doce de
Ieite, novena, o Tico-Tico, doce de banana, teatrinho, visita, picolés, missa, rosca, cinema de novo, sapatos novos de camurça branca, o Cruzeiro, bemcasados, romances franceses, comunhão, recorte de gravuras, Fon-Fon, espiar casamentos, bolinho de legumes, festas de aniversário, Missa do
Galo, carta para a família, dor de barriga, desenho de aquarela, mingau, indigestão... Tudo parecia pouco para encher os dias de uma garota carioca em férias mineiras das quais regressa sozinha de avião.
Tantas e tão preciosas evocações resgatam do esquecimento um modo de vida que é hoje apenas um dolorido retrato na parede. Retrato, entretanto que, graças à arte de Julieta, escapa da moldura, ganha movimentos, cheiros, risos e vida.
O livro, no entanto, guarda ainda outras riquezas: por exemplo, o tom autêntico de sua linguagem que se, como prometeu sua autora, evita as pompas, guarda não obstante o sotaque antigo do tempo em que os adolescentes que faziam diários dominavam os pronomes cujo/a/os/as