Por que dom quixote das crianças
Além da importância que esse clássico tem para a literatura mundial, provavelmente são também por essas questões relativas ao modo de ler que Monteiro
Lobato decide adaptar Dom Quixote para as crianças brasileiras.
Lobato percebe que, na época, as obras apresentadas ao leitor brasileiro eram guiadas pela prosódia portuguesa, o que, dentre outros fatores, provocava um distanciamento do leitor em relação às histórias narradas. Assim, tanto para a literatura adulta, quanto para a infantil, há um projeto estético de Monteiro Lobato: abrasileirar as formas literárias, facilitando e seduzindo nosso leitor.
A adaptação para a literatura infantil é muito feliz: se Dom Quixote de
Cervantes já chama atenção do público infantil por características do herói (sonhador, corajoso, ético) e pelo conteúdo das aventuras (que despertam a coragem frente a situações perigosas; que mostram uma ordem justa no mundo), a reescrita de Lobato – ao inserir essas narrativas que compõem a história de Quixote, no interior das aventuras de Emília, Narizinho e Pedrinho – apela para o contraste entre real e irreal do contado, ensinando as crianças a delícia da leitura e a importância da interpretação.
Física e intelectualmente, as crianças do sítio interpretam as histórias de
Quixote e as inserem em seu cotidiano. Essa interferência do livro em suas vidas parece uma piscadela para as crianças para seu poder de manipulação daquilo que lêem (ou ouvem) a fim de incorporar o conteúdo lido no texto de suas próprias vidas.
Nesse sentido, a escolha do LER É UMA VIAGEM em trabalhar essa adaptação de Monteiro Lobato constitui-se num momento de reatualização desses mecanismos por meio da leitura em voz alta e do acompanhamento musical, operando um novo sistema de referências sensoriais. A audição dessas histórias é importante ferramenta didática no sentido de trazer para o corpo a inscrição de um texto que também se quis