Politicas socio-familiares no Brasil
Certamente, para que possamos considerar a relação que se estabelece entre as famílias e as políticas sociais, precisamos identificar com qual conceito de famílias estas trabalham. Questão complexa. Qualquer definição de família despertaria inúmeras dúvidas e controvérsias, pois estão bastante afetadas pelos valores sociais, associados às religiões, aos paradigmas jurídicos, à construção social de gênero, aos parâmetros culturais da vivência da sexualidade, entre outros condicionantes. Por sua vez, as políticas sociais, quando dirigidas para as famílias, são formuladas e executadas sob múltiplas abordagens e lógicas.
A compreensão sobre as “possibilidades de ser ou estar em família” é um investimento com extensos contornos, visto que as novas percepções sobre as famílias têm assimilado, em graus diversos, a flexibilidade constatada por Lévy-Brul, para quem “o traço dominante da evolução da família é a sua tendência a se tornar um grupo cada vez menos organizado e hierarquizado e que cada vez se funda mais na afeição mútua” (apud GENOFRE, 1995, p. 100).
Com efeito, não se pode falar em família, mas sim em famílias, que se organizam sob formas e lógicas diferenciadas, segundo as necessidades, representações e dinâmicas, entre outras variáveis, que lhes são peculiares, nos diversos grupos e segmentos sociais. As famílias têm significados e são vividas de maneiras diversas por indivíduos de distinto sexo, idade e classe social. Esses são traços que dão visibilidade à construção da história da família que, como confirma Poster, “é descontínua, não-linear e não-homogênea (...) em padrões familiares distintos, cada um com sua própria história e suas próprias explicações” (apud SZYMANSKI, 1995, p. 24). Independentemente de alterações e mudanças substantivas na composição e nos arranjos familiares a família é um forte agente de proteção social de seus membros: idoso, doente crônico, dependentes, crianças, jovens,