politica no brasil
Eliel Machado**
Resumo:
Discute-se o processo de “transformação” político-ideológica do PT ao longo dos anos 1990 que culminou, em 2002, na eleição de um ex-operário e líder sindical à presidência da república, provocando um rearranjo político do bloco no poder entre as frações hegemônicas sem que isso resultasse em crise de hegemonia.
Introdução
Depois de aproximadamente 15 anos de ditadura militar, nascia um partido de massas, com grande capacidade de mobilização, oriundo das lutas populares e operárias por melhores condições de vida, trabalho e salário. Na contramão da crise político-ideológica dos partidos e sindicatos proletários, o PT propunha-se a ser um partido de novo tipo e a não repetir os “erros” daqueles que se “espelhavam” no bloco soviético. Desde que surgiu, tem uma trajetória ascensional impressionante: aumento de cadeiras nos parlamentos (municipais, estaduais e federal), a conquista de prefeituras, de governos estaduais e, mais recentemente, do governo federal1.
Entretanto, quanto mais ascendia institucionalmente, mais se distanciava dos movimentos populares e sindical que lhe deram origem.
Neste artigo, procuramos demonstrar, minimamente, a transformação político-ideológica ocorrida num partido popular, comprometido inicialmente com as classes trabalhadoras, mas que, ao longo de sua trajetória, muda de postura e
“flexibiliza” seus compromissos iniciais. Para isso, partimos de seu momento de inflexão nos anos 1990 e chegamos ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva, ex* Esta é uma versão substancialmente modificada e reduzida de um texto que será publicado na revista mexicana Metapolítica.
** Professor de Ciência Política da Universidade Estadual de Londrina (PR), coordenador do Grupo de Estudos de Política da América Latina (GEPAL), pesquisador do Núcleo de Estudos de Ideologias e Lutas Sociais (NEILS/PUC-SP) e membro do GT Historia Reciente do CLACSO.
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