POETA
Não ficarão, na terra, os meus rastros,
Pois o tempo apaga da areia as pegadas.
Serei levado sem velas e sem mastros
Para as terras de nada habitadas.
Banhado com unguento de alabastros,
Coberto de flores com lágrimas regadas,
Na moldura, imagem de riscos abstratos
Que a vida deu suas últimas pinceladas.
Postas minhas mãos, juntados meus pés,
Agora, a minha epitimia é pelo grés
E na pedra em considerável fundura...
O artífice cava esquadrando a medida,
Depois de jogada no fundo a carne fedida,
Tapa o povo, com terra, a minha sepultura.
“SOLENE”
Meus cabelos soprados pela ventania
Não cobrem do crânio os destroços,
O esqueleto branco em total letargia
É hoje o que um dia serão os vossos.
Não achem graça dos meus ossos,
Não sintam pela carne que os cobria,
Não tenham, pois, disto, remorsos.
Pois serão assim também um dia.
Esticados dentro duma caixa sepulcral,
Acompanhados pela arquiteta cemiterial
Apesar de terem dela um medo infrene...
Receberão dos amigos muita visita,
Flores, lágrimas e uma oração bendita,
E logo lhes farão um cortejo solene.
“HECATOMBE”
Lenta a noite, negror profundo,
Abissal silêncio ouço...
Dói minha carne, cada osso,
Há hipotermia. Me inundo
De um pavor mui colosso.
De nada presto ao mundo,
Sendo eu, um ser oriundo
De um incompleto esboço.
Um olhar dilatado e seco,
O corpo opulento, agora peco
E um jorro de suor insosso...
Paro. É o fim! Logo se estende o menir!
Aos vermes, minhas vísceras irão nutrir
Numa fervente hecatombe no fosso.
“DECANTO À MORTE"
Outrora, a juventude a luzir.
Hoje, do corpo só destroços
De músculos, vértebras, ossos,
De pés, mãos... Eu a me combalir.
O enfado na matéria a se refletir,
Deste caboclo. A bravura agora inerte!
Espero que Deus do céu me oferte
Uma morte suave num breve porvir...
Sozinho, para o Hades eu seguirei.
De tudo, nada daqui levarei.
Mas terei uma multidão a me conduzir...