POESIA DE MACHADO DE ASSIS
Curso de Especialização em Literatura Brasileira
Machado de Assis: A Dialética de Tradição e Invenção
Professora Lívila Pereira Maciel
Sob o véu dos versos: a poesia de Machado de Assis
O diálogo entre a poesia, a prosa e o teatro
I. FALENAS
RUÍNAS
No hay pájaros [hogaño] em los nidos de antaño.
Provérbio espanhol
COBREM PLANTAS sem flor crestados muros;
Range a porta anciã; o chão de pedra
Gemer parece aos pés do inquieto vate.
Ruína é tudo: a casa, a escada, o horto,
Sítios caros da infância. Austera moça
Junto ao velho portão o vate aguarda; Pendem-lhe as tranças soltas Por sobre as roxas vestes
Risos não tem, e em seu magoado gesto
Transluz não sei que dor oculta aos olhos,
— Dor que à face não vem, — medrosa e casta
Intima e funda; — e dos cerrados cílios Se uma discreta e muda
Lágrima cai, não murcha a flor do rosto
Melancolia tácita e serena,
Que os ecos não acorda em seus queixumes
Respira aquele rosto. A mão lhe estende
O abatido poeta. Ei-los percorrem
Com tardo passo os relembrados sítios,
Ermos depois que a mão da fria morte
Tantas almas colhera. Desmaiavam, Nos serros do poente. Aos rosas do crepúsculo.
"Quem és? pergunta o vate; o solo que foge
No teu languido olhar um raio deixa;
— Raio quebrado e frio: — o vento agita
Tímido e frouxo as tuas longas tranças.
Conhecem-te estas pedras; das ruínas
Alma errante pareces condenada
A contemplar teus insepultos ossos.
Conhecem-te estas árvores. E eu mesmo
Sinto não sei que vaga e amortecida Lembrança de teu rosto." Desceu de todo a noite,
Pelo espaço arrastando o manto escuro
Que a loura Vésper nos seus ombros castos,
Como um diamante, prende. Longas horas
Silenciosas correram. No outro dia,
Quando as vermelhas rosas do oriente
Ao já próximo sol a estrada ornavam,
Das ruínas saíam lentamente Duas