A Literatura Como Instituição Social
A Literatura, de longa data - ainda que não se possa incluir aí o pensamento da Grécia Clássica -, tem sido concebida essencialmente como texto . Uma enorme coleção de textos, uma monumental biblioteca universal. E, aparentemente, não há nisso equívoco de marca.
O texto , antes de mais nada, é um produto. Nasce do trabalho humano e é dele testemunho material eloqüente. É testemunho do esforço de criação individual, dos condicionamentos sociais, das dimensões culturais, das condições econômicas, dos conflitos éticos e das contradições políticas, que configuram o espaço em que foi gerado e publicado. Assim, sua leitura e compreensão demanda que se desentranhe, de sua teia de signos, indícios dessa totalidade, sem o que ficará limitado a um jogo de armar destituído das significações que o tornam parte do legado cultural de que somos herdeiros.
Tal tarefa, em si mesma, indicia que antes do texto e depois dele existem dimensões que não podem, de forma alguma, passar despercebidas. Sem o autor, que lhe dá o sopro gerador, e sem o leitor, que o arranca da insignificância geral, ressuscitando-o, o texto não passa - como queria Sartre - de um monte de papel cheio de borrões de tinta.
Assim a Literatura, enquanto instituição social viva, tem que ser entendida como um processo. Processo histórico, político e filosófico; semiótico e lingüístico; individual e social, a um só tempo. Sua realidade transcende o texto para assumir o discurso , que conta, minimamente, com as dimensões do enunciador , do enunciado e do enunciatário .
A Literatura, desse modo, não pode estar apenas no texto , como não está no autor, nem no leitor. Ela constitui-se numa dinâmica que a todos envolve e compromete, numa unidade de movimento intensamente dialética.
O real da Literatura é, então, um processo que envolve atores historicamente situados em contextos sociais claramente definidos. O real Dom Quixote é