poemas de gonçalves dias
Canção do exílio
Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá; As aves, que aqui gorjeiam, Não gorjeiam como lá.
Nosso céu tem mais estrelas, Nossas várzeas têm mais flores, Nossos bosques têm mais vida, Nossa vida mais amores.
Em cismar, sozinho, à noite, Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá.
Minha terra tem primores, Que tais não encontro eu cá; Em cismar — sozinho, à noite — Mais prazer encontro eu lá; Minha terra tem palmeiras, Onde canta o Sabiá. Não permita Deus que eu morra, Sem que eu volte para lá; Sem que desfrute os primores Que não encontro por cá; Sem qu'inda aviste as palmeiras, Onde canta o Sabiá.
A concha e a virgem
Linda concha que passava, Boiando por sobre o mar, Junto a uma rocha, onde estava Triste donzela a pensar,
Perguntou-lhe: — "Virgem bela, Que fazes no teu cismar?" — "E tu", pergunta a donzela, "Que fazes no teu vagar?"
Responde a concha: — "Formada Por estas águas do mar, Sou pelas águas levada, Nem sei onde vou parar!"
Responde a virgem sentida, Que estava triste a pensar: — "Eu também vago na vida, Como tu vagas no mar! "Vais duma a outra das vagas, Eu dum a outro cismar; Tu indolente divagas, Eu sofro triste a cantar.
"Vais onde te leva a sorte, Eu, onde me leva Deus: Buscas a vida, — eu a morte; Buscas a terra, — eu os céus!
Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros, De vivo luzir, Estrelas incertas, que as águas dormentes Do mar vão ferir;
Seus olhos
Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros, Têm meiga expressão, Mais doce que a brisa, — mais doce que o nauta De noite cantando, — mais doce que a frauta Quebrando a solidão,
Seus olhos tão negros, tão belos, tão puros, De vivo luzir, São meigos infantes, gentis, engraçados Brincando a sorrir.
São meigos infantes, brincando, saltando Em jogo infantil, Inquietos, travessos; — causando