Poema saudade

Saudade Clarisse Lispector
De estilo inconfundível Clarisse acena uma invisibilidade silenciosa que nomeia saudade, Quando se refere “aos amigos que nunca mais vi...” revela um sabor para a vida que, definitivamente não se encontra no real mas na solidão que habita nossa essência. Estratifica desejo e realidade psíquica promovendo cumplicidade e aconchego com seu leitor.
Quando fala de “infância perdida” coloca o homem prisioneiro do homem que na busca da liberdade ilimitada retoma nova prisão, como alter- ego , seu duplo. Fantasia em sua obra num esforço de imersão do homem em seu próprio eu para negar a si mesmo, num instante outro gerando compulsão quase ritualística.
“De quem disse que viria e nem apareceu...” Dilacerado e dividido constata sua falta originária, sendo corrompido pela dureza do diamante no mundo, prefere a parte ao todo, o acessório ao integral. Disfarça sua culpa pela ausência, atribuindo uma tendência reparadora como mecanismo de defesa atemporal. Experencia a petrificação dos sentimentos inconscientes e dos valores alienantes que dominam nossa sociedade quando sente saudade de “gente que passou pela calçada contrária da minha vida”, denunciando o mito da proximidade com um outro que mora dentro de mim.
Parece negligenciar o real porém representa-o como perda de algo que lhe pertence ou a sua vida no reino simbólico. Revaloriza palavras imbuindo-as de nova roupagem extrapolando os limites de seu significado. O poema sugere uma analogia do aspecto íntimo com o indecifrável de nossa vulnerabilidade humana. Um eu que não se governa em sua própria casa, que é refém de um isso que ouve o que nos atravessa .
Retrata de forma apaixonada a mulher, continente negro, em sua incompletude e propõe leitura flutuante de nós mesmas, brincando com nossa irônica visibilidade social . De estilo literário intimista e introspectivo faz a palavra desalojar-me. Quando faço uso profano do verbo escrevo tornando-me outro. Sua palavra independe dessa teia