Poema Medieval
Ao castelo o cavaleiro vinha vindo sua via, sem saber que procurava, nem saber que encontraria.
As armas eram de ouro, a lança na mão trazia.
Fechadas eram as portas, mas co’a lança já batia.
As salas eram escuras, e ninguém nelas vivia.
Só na torre uma princesa esperava e gemia.
Prisioneira ali ficara à espera de quem viria, sem dama que a cuidasse, ou donzelas e honraria.
Com a lança o cavaleiro contra as portas investia.
Sentindo as portas forçadas a princesa gritaria, se não fora a liberdade que a lança lhe prometia.
Já se rompem essas portas com que o pai a defendia dos homens e suas lanças que mais que tudo el’ temia.
Mas este de lança erguida já está na sala sombria.
E pela escada da torre logo logo ali subia, ao encontro da princesa de que ele não conhecia.
Ao cimo, ouvindo seus passos,
[já] a princesa tremia, e sua lança rebrilhante, antes de o ver, ela via.
E cega de seu esplendor aos braços dele corria, sem contar que a lança em riste já nela se cravaria.
Mortalmente trespassada nos braços dele caía, e morrendo e suspirando estas palavras dizia:
De longe vinhas, senhor, de tão grande valentia para matar-me de morte que o teu amor não sabia.
Donzela tão bem guardada, para ti me guardaria, que nestas salas escuras só por amor eu vivia.
Descai-lhe morta a cabeça, mais palavras não diria.
E ao lado da suja lança o seu sangue refulgia.
Olhando-a morta e donzela nas lajes em que a estendia, o cavaleiro jurou que nunca mais forçaria as portas desses castelos co’a lança que quebraria.
E os pedaços da lança que mais que tudo ele queria enterrou com a princesa na cova que já lhe abria.
E triste o triste partiu para seguir sua via até ao negro mosteiro em que p’ra sempre estaria.
Mas da cova nascem rosas que ninguém colher podia sem que a mão lhe mirrasse no ramo que se partia: rosas de sangue e de leite que só a terra bebia.