Pobreza e desigualdade
desigualdade
PERCEPÇÕES DA ELITE SOBRE
POBREZA E DESIGUALDADE
Elisa P. Reis
Introdução
Pobreza e desigualdade são temas tradicionais das ciências sociais, embora no Brasil os economistas pareçam às vezes mais preocupados com essa questão do que os sociólogos, antropólogos ou cientistas políticos. Poder-se-ia buscar justificar isso argumentando que a Economia está mais próxima às questões de formulação de políticas sociais, uma vez que estas envolvem opções quanto à aplicação de recursos escassos. Contudo, não é fácil explicar por que a pobreza e a desigualdade são relativamente negligenciadas nas outras ciências sociais, já que — além da indiscutível dimensão ética — colocam questões teóricas tão centrais em nossas disciplinas.
Como não se perguntar, por exemplo, sobre os fundamentos da solidariedade social em sociedades que exibem níveis de desigualdades tão acentuados como a brasileira? A pergunta clássica da Sociologia, “o que torna possível a sociedade?”, é inevitável quando se observa que as experiências de vida de diferentes setores da população são tão discrepantes e muitas vezes incomensuráveis. O que é que preserva o status quo? Como e por que uma dada ordenação social se torna aceitável ou
legítima? Parece bastante claro que a capacidade de empatia decresce significativamente à medida que nos diferenciamos socialmente do outro. Isso explica, embora não justifique moralmente, por que as tragédias e vicissitudes que abalam a classe média repercutem muito mais na mídia que aquelas que vitimam as classes baixas. Se há baixa capacidade de empatia entre setores muito díspares da sociedade, como se resolve a questão da cooperação? É preciso reconhecer que grupos desprivilegiados têm, sim, sido objeto de muita atenção nas ciências sociais brasileiras. Entretanto, meu argumento aqui é que, salvo notáveis exceções, tem faltado maior empenho nos estudos de caráter mais sistemático entre os cientistas sociais. Tem