Plano de aula
No poema João Cabral de Melo Neto revela sua concepção do ato criador. Tem como objeto a construção do poema, toma como referência um ato do cotidiano em que também o escolher, o combinar são necessários. O jogar as palavras é a primeira etapa criadora: a inspiração. Essa leva o artista a colocar no papel suas iniciais impressões. Porém, o verdadeiro artista não fica aí: ele, assim como o catador de feijões, seleciona os melhores grãos, a fim de construir uma poesia que fale, não pelo excesso, mas pela contenção, desfazendo - se de tudo o que for leve e oco, palha e eco. O que já foi dito não interessa repetição. Sua paixão e consciência buscam a originalidade da forma e do conteúdo. Catar feijão se apresenta composicionalmente em duas partes, com a marcação da segunda delas como o número 2.
O verbo catar assume o sentido de escolher. Porque catar feijão é, como catar palavras, recolher, retirar o que não é feijão ou não é feijão bom, o que não é palavra adequada ou não é palavra boa. Nota-se que o rigor de escolha é mesmo exemplar. Conquanto haja o propósito de conceituar o ato de escrever, com a importância fundamental que lhe dá de ser dada, o poeta usa o verbo limitar para estabelecer proximidades (e não igualdade) entre comparante e comparado: "Catar feijão se limita com escrever", e não é o mesmo que catar feijão é como escrever. As diferenças e semelhanças dos dois atos ficam garantidamente asseguradas nos versos do poema. E para demonstrar concretamente essa imagem, seguem-se os verso dois, três e quatro, com os quais estabelece simultaneamente a semelhança / diferença no ato de jogar: "joga-se os grãos na água do alguidar" é semelhante apenas na intenção de escolher a "e as palavras na folha de papel". E a imagem da diferença novamente se estabelece, pois, ao contrário dos grãos, as palavras não vão fundo, bóiam no papel, não obstante chumbo: Certo, toda palavra boiará no papel, / água