Pierre
[...] Sartre, em uma nota de A crítica da razão dialética disse, a propósito de suas leituras juvenis de Marx (que não se lia na universidade): “eu compreendia tudo e não compreendia nada”. Quer dizer que há uma compreensão, um fazer como se se compreeendera, uma falta de compreensão fundada em resistências profundas.
P. Bourdieu
O que é fazer falar a um autor?
A propósito de Michel Foucault.
O presente artigo articula os resultados já obtidos através de pesquisa que se realiza acerca da obra de
Pierre Bourdieu, buscando compreender as várias modalidades de apropriação que marcaram o ingresso dos estudos do sociólogo francês no campo educacional brasileiro. Com a finalidade de tornar exeqüível esse estudo, opera-se por etapas que prevêem o exame das especificidades brasileiras da leitura de Bourdieu nos periódicos especializados em educação, na utilização do autor em teses, dissertações e estudos publicados sob a forma de livros, em trabalhos apresentados em congressos, no movimento editorial do campo e na bibliografia de cursos universitários. Essa divisão, que diferencia as fontes mediante as quais é possível ter acesso aos processos de apropriação da obra do autor, não pretende autonomizar as diferentes instâncias de uma mesma dinâmica característica de um espaço de produção intelectual. Assim, mantendo a atenção para com a simultaneidade, as relações e a interdependência dessas instâncias, pode-se proceder ao estudo específico da produção divulgada em vinte periódicos educacionais de circulação nacional e amplamente reconhecidas, embora algumas já tenham tido sua publicação interrompida. O período escolhido para exame foram os anos de 1971 a 2000 e, nos vinte periódicos examinados, foram localizados 355 trabalhos
(dentre os quais seis resenhas) com referências à obra de Bourdieu. Como se pretendeu tratar da