PIAGET
Departamento de Filosofia e Ciências da Educação
Faculdade de Educação - USP
Constata-se que boa parte dos comentadores da obra de Piaget afirma que a inteligência é originariamente de natureza individual e que, portanto, a socialização seria o efeito de um processo de evolução cognitiva. Essa interpretação substancializa a inteligência, recorre a explicações reducionistas e considera o processo de construção epistêmica como uma simples atualização de possíveis cognitivos pré-formados. Uma série de investigações tem sugerido a existência de uma interdependência causal entre as dinâmicas sociais e o desenvolvimento cognitivo, que nos alerta da necessidade de rediscutir o estatuto da interação.
Descritores: Piaget, Jean, 1896-1980. Inteligência. Interação. Construtivismo.
Mas o que é a criança em si mesma?
Existem crianças sem relação a certos meios coletivos bem determinados?
(Jean Piaget, Études Sociologiques).2
Parece-nos que no âmbito da psicologia da inteligência, as teses piagetianas são objeto de duas interpretações que têm se tornado hegemônicas.
Por um lado, encontramos aquela leitura que fez de Piaget o representante de uma psicologia monádica. Ou seja, aquela que, realizando uma interpretação, tanto naturalista quanto pré-formista do processo psicogenético, conclui que a inteligência é uma espécie de mônada leibniziana que evolui conforme um desígnio vitalista. Como sabemos, o próprio Piaget reagiu surpreso a essas interpretações maturacionistas.
Por outro, encontramos uma outra forma de ler os textos piagetianos que, ao contrário, acaba fazendo de nosso autor o representante de uma psicologia diádica. Assim, nesta perspectiva, a inteligência é pensada como umamônada biológica que possui portas e janelas e acaba evoluindo na proporção da ação solicitante do meio físico e/ou social (sic). Ao nosso ver, esta interpretação, em primeiro lugar, reifica a