Pessoa Fernao Ramos O Que Documentario
Fernão Pessoa Ramos
UNICAMP
A questão com a qual iniciamos, de modo um pouco provocativo, nosso artigo, constitui-se da seguinte forma: existe a especificidade do campo não-ficcional, seja na tradição documentária que remonta aos anos 30, seja no contato da imagem não ficcional com o cinema de vanguarda construtivista, seja nas inovações formais trazidas pelo cinema direto/verdade, seja, ainda, nas experiências de narrativa em primeira pessoa do final do século XX? Existe algo estruturalmente comum ao campo nãoficcional, abrangendo também o espaço que hoje cobre as novas mídias e suportes digitais? A questão está em se podemos afirmar a existência de um campo heterogêneo, trabalhado em sua substância imagético-sonora comum, dentro de um leque amplo que vai das experiências com "web câmeras"em sites da Internet, passa por narrativas seriais do tipo "Reality TV"("No Limite", "Survivors", "Big Brother"), servindo também para as diversas composições de estilo documentário mais clássico, veiculadas por tvs a cabo, alternando formas como depoimentos/entrevistas e voz ’over’ explicativa. Um mesmo campo que também teria, em suas fronteiras, propostas no estilo "docudrama",
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in Ramos, Fernão Pessoa e Catani, Afrânio
(orgs.), Estudos de Cinema SOCINE 2000, Porto Alegre, Editora Sulina, 2001, pp. 192/207
dramatizando/reconstituindo eventos extraordinários (crimes, acidentes, etc) ou fatos históricos realmente ocorrridos, no eixo de programas do tipo "Linha Direta"(que traz o documentário "The Thin Blue Line", de Errol Morris, como sua principal fonte inspiradora). Será que podemos caracterizar o documentário, dentro de uma equivalência enquanto gênero, a partir de outras tradições narrativas do cinema, como o western, o musical, o filme noir? Seria o documentário um gênero como outros, ou teria o documentário características imagéticas (e sonoras) estruturais que o singularizariam deste outro vasto continente da representação com imagens-câmera que