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Poesia Sacra: “A Jesus Cristo Nosso Senhor”
Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,
Da vossa alta clemência me despido;
Porque, quanto mais tenho delinqüido,
Vós tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos irar tanto pecado,
A abrandar-vos sobeja um só gemido:
Que a mesma culpa, que vos há ofendido,
Vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida e já cobrada
Glória tal e prazer tão repentino
Vos deu, como afirmais na Sacra História,
Eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada,
Cobrai-a; e não queirais, Pastor Divino,
Perder na vossa ovelha a vossa glória.
A análise desse soneto de Gregório de Matos permite identificar as características barrocas, principalmente suas contradições.
A primeira característica se refere ao tema abordado pelo autor, onde o eu-lírico ora a Jesus Cristo, Nosso Senhor e Salvador, enaltecendo a fé católica e assim, colaborando com a “Arte da Contra-Reforma”.
No primeiro quarteto fica claro o ato de contrição, em que o eu-lírico humildemente se confessa pecador, tentando garantir o seu perdão, mas deixando bem claro que a sua falta não representa uma vontade de se distanciar do Senhor e de se despedir de sua piedade, pelo contrário, que existe a confiança no empenho de Cristo em salvar a todos, mesmo em caso de novo erro. O “Conflito Espiritual” se faz presente junto com a “Efemeridade do Tempo” e percebe-se o homem dividido entre o mundo material e o mundo espiritual: existe a angústia causada pelo desejo de aproveitar a vida e a necessidade da salvação divina, concentrada na antítese que enfoca o perdão e o pecado, como exemplo, podemos utilizar o seguinte verso para demonstrar essa antítese,
“(...)quanto mais tenho delinqüido, vos tenho a perdoar(...)”.O “Cultismo” aparece na linguagem rebuscada e na forma de metáfora, onde despedir-se da piedade do Senhor significa não desejar mais o perdão.“(...) Pequei, Senhor, mas não porque hei pecado,
Da vossa alta