Pensando ética Política

(Re)Pensando Ética e Política1

Frederico Guilherme Bandeira de Araújo (Ippur)*

Introdução

Se pararmos por um breve momento em meio ao nosso frenético cotidiano e procurarmos pensar sobre o significado e a prática do que nosso senso comum designa como ética – em geral algo relativo ao juízo de ações ou idéias, baseado, seja de que modo for, em alguma noção de Bem –, ficaremos perplexos. Por um lado, pela constatação da profunda crise de valores por que passa o mundo e, em particular, a sociedade brasileira contemporânea; por outro, pela constatação de que procedimentos e usos das próprias noções a partir dos quais nosso senso comum julga práticas e teorias têm permitido e justificado, no limite, ações de caráter oposto ao que essas noções em si significam.

A referida crise de valores expressa, ao mesmo tempo que contribui para instituir, certo esgarçamento do tecido social e cria sérias dificuldades para uma conduta coerente. Como agir e se posicionar em meio a um mundo de arbítrio, exclusão, pobreza desmesurada, riqueza sem regra e limite, atentados e guerras em nome da paz, corrupção, mercado regulado pela força da moeda e das armas, Estados subservientes aos poderosos, consumismo, tráfego alucinado, tráfico alucinógeno etc., sem ter algo claro e distinto a tomar como guia? Aparentemente eram menos problemáticos os tempos em que os mandamentos religiosos cumpriam incontestavelmente esse papel, ou mesmo os já tumultuados tempos modernos em que os princípios iluministas – emblematicamente presentes no ideário da Revolução Francesa: liberdade, igualdade, fraternidade – reinavam como faróis a sinalizar para os indivíduos os códigos do bom julgar e agir.

Esses princípios laicos que fundaram a ética moderna como referenciais do bem social mostram-se, ainda hoje, presentes nos discursos hegemônicos, embora nas entrelinhas estejam transfigurados: “liberdade” como liberdade no mercado, “igualdade” compreendida como semelhança na riqueza,