Pensamento africano
Contrariamente a eles, eu me dou a liberdade de começar a minha contra-apresentação pela contra-capa do livro – uma imagem que mostra um aparente caos do Departamento de Filosofia da Universidade Pedagógica. Pela porta do Departamento se pode ver um monte de papéis atirados de qualquer maneira ao chão. Na sala, ao fundo, se pode ainda ver um vidro encostado à parede, na parte inferior da janela à esquerda – é o vidro da vitrina a ser também transferida – não devia, pois, ser quebrado e nem deitado fora como o papel que se pode ver. Aonde ia o Departamento de Filosofia? Generalizando: para onde ia ou vai a filosofia? É isto mesmo a filosofia: uma viandante permanente, que não se esquece, porém, de registar o caos que ela arrasta consigo no momento de se afastar do supérfluo. Era a mudança para as actuais instalações no Campus de Lhanguene. A partir deste entulho, despertam, do fundo da gaveta do esquecimento, recordações de uma série de metamorfoses de umPensamento Engajado que, sem ser conservadorista, procura salvar, pelo menos em imagem, o que já deu de si.
Estes papéis ao chão são, muitos deles, manuscritos ainda da altura em que não tinhamos computadores e outros dispositivos, como os temos hoje, para registar e conservar as nossas produções, as nossas ideias e, usando a terminologia dos autores do livro, o nosso Pensamento Engajadopela filosofia e pela Educação em Moçambique. A propósito: Severino Ngoenha, co-autor do livro, escreve, a dado passo, que o esforço que empreendeu nas suas primeiras obras para trazer a filosofia ao debate moçambicano alcançou inesperadamente dimensões extraordinárias em 1995 quando lhe foi dada a oportunidade de “conceber um curriculum da filosofia para a Universidade Pedagógica e acompanhar a formação de professores que se encarregariam, num segundo momento, de introduzir a filosofia em todas as escolas secundárias do país”. Diga-se também que este foi o corolário de um