Pedagogia
Abalados pela crise ética, os pais de hoje não impõem limites às crianças e não ensinam o que é certo e o que é errado"
Nas últimas décadas, a escola vem assumindo praticamente sozinha um papel que, em princípio, não deveria ser só seu: o de educar seus alunos para a cidadania. Essa carga foi sendo despejada sobre a instituição por uma série de motivos. A sociedade mudou, valores éticosse transformaram e muitos pais ficaram inseguros com relação à formação dos filhos. Não é o caso de os professores abrirem mão dessa responsabilidade e jogarem a culpa nas famílias, mas a pesquisadora Tania Zagury defende que é preciso encontrar um ponto de equilíbrio. Durante os últimos vinte anos, essa filósofa e mestre em educação estudou as dificuldades na criação dos jovens e encontrou respostas que lhe renderam quatro livros. Suas descobertas podem ajudá-lo a redividir essa árdua tarefa de transmitir preceitos éticos e morais necessários para uma boa convivência social. O segredo, segundo ela, está na reaproximação com os pais. Nesta entrevista, ela indica caminhos para quem quer formar cidadãos produtivos, participativos, críticos e respeitosos. Mas avisa: essa tarefa não é nada fácil.
Nova Escola: Quem tem hoje o papel de educar as crianças para a cidadania? Os pais ou a escola?
Tania Zagury: Essa missão está sobrando muito mais para a escola, apesar de ela não ter condições de arcar sozinha com a responsabilidade. Não que os pais estejam acomodados. Nas últimas décadas, nossa sociedade passou por mudanças que se refletiram nas relações familiares.
NE: Que mudanças foram essas?
Tania: Os pais de hoje trabalham mais e passam menos tempo com os filhos. A mãe, que antes ficava em casa e transmitia valores morais, agora trabalha fora e, em 27% dos casos, é arrimo de família. Quando chegam do trabalho, ambos estão cheios de culpa pela ausência e, para minimizar esse sentimento, tornam-se muito permissivos, deixam de estabelecer