pedagogia
. . Sob a sombra de um pé de jabuticaba. Lentamente, Deus erguia suas mãos e colhia uma ou outra fruta. Saboreava sua criação negra e adocicada. Fechava os olhos e pensava. Permitia-se um sorriso piedoso. Mantinha seu olhar complacente.
. . Foi então que, das nuvens, um de seus muitos arcanjos desceu e veio em sua direção. Ele tinha asas lindas, brancas, imaculadas. Ajoelhou-se aos pés de Deus e falou:
. . -“Senhor...visitei sua criação como pediu. Fui a todos os cantos.
. . Estive no sul, no norte. No leste e oeste. Vi e fiz parte de todas as coisas. Observei cada uma de suas crianças humanas. E por ter visto, vim até o Senhor... para tentar entender.
. . Por quê?
. . Por que cada uma das pessoas sobre a terra tem apenas uma asa?
. . Nós, anjos, temos duas... podemos ir até o amor que o Senhor representa sempre que desejarmos. Podemos voar para a liberdade sempre que quisermos. Mas os humanos, com sua única asa, não podem voar.
. . Não podem voar com apenas uma asa” Deus, na brandura dos gestos, respondeu pacientemente ao seu anjo.
. . - “Sim... eu sei disso. Sei que fiz os humanos com apenas uma asa...”
. . Intrigado, com a consciência absoluta de seu Senhor, o anjo queria entender e perguntou:
. . - “Mas por que o Senhor deu aos homens apenas uma asa quando são necessárias duas asas para poder voar... para poder ser livre?”
. . Conhecedor que era de todas as respostas, Deus não teve pressa para falar. Comeu outra jabuticaba, obscura e suave. E então respondeu:
. . - “Eles podem voar sim, meu anjo. Dei aos humanos apenas uma asa para que eles pudessem voar mais e melhor que Eu ou vocês meus arcanjos.
. . Para voar, meu amigo, você precisa de suas duas asas. Embora livre, sempre estará sozinho. Talvez da mesma maneira que Eu. Mas os