PEDAGOGIA
Histórias da educação infantil brasileira
Moysés Kuhlmann Jr.
Fundação Carlos Chagas, São Paulo
[...] Não me posso resumir porque não se pode somar uma cadeira e duas maçãs. Eu sou uma cadeira e duas maçãs. E não me somo.
Clarice Lispector. Água viva. 1973, p. 89
O marco dos 500 anos da chegada de Cabral às terras que vieram a constituir o Brasil proporciona uma oportunidade em que o país é posto em questão, sob os mais diversos aspectos, nas tantas publicações e iniciativas realizadas em torno desta data, oficiais ou não. O presente é a marca preponderante nesses estudos do passado produzidos em torno dos centenários e das suas comemorações. Neles, interpreta-se o Brasil atual a partir de um balanço dos mais variados temas do conjunto do universo produtivo e dos problemas enfrentados pela sociedade contemporânea. Quer-se abranger toda a história, desde a origem, do país ou do tema em estudo, como a educação, composta por diferentes dimensões, entre as quais também é relevante a da educação infantil.
A escrita da história recente se faz marcada pela parcialidade do envolvimento direto e da inserção individual em alguns dos seus acontecimentos. Contrapõe-
Revista Brasileira de Educação
se à narrativa do passado mais distante, que se imagina e se analisa das leituras dos registros do seu tempo, sem as lembranças vivas das interações que envolvem a produção das fontes documentais. São esses os pólos em que se produzem estas reflexões sobre a trajetória das instituições de educação infantil brasileiras. Trata-se de um segundo estudo elaborado no âmbito dos 500 anos, que recupera algumas das análises do anterior
(Kuhlmann Jr., 2000), mas que procura trazer outras questões sobre a temática.
A comparação com o passado precisa superar a linearidade para não obscurecer o presente que se quer pôr em questão. Historicamente, as representações do país em eventos comemorativos sugerem o limiar da