Patrimonio
A verdadeira imagem do passado perpassa veloz. [...] A história é objeto de uma construção cujo lugar não é o tempo homogêneo e vazio, mas um tempo saturado de “agoras”.
Walter Benjamin1
1.1. Duas noções imersas na história: nação e patrimônio
Na virada do século XIX para o XX, a noção de progresso alimentava a perspectiva de que o futuro da humanidade se daria de forma promissora e com sentido de evolução para um mundo melhor. Essa perspectiva era marcada pelo sentimento nacional: nações emergiam e ao mesmo tempo concorriam em exibições universais, diante de um mundo que se integrava, se estreitava, se conhecia, e também se estranhava. Construíam-se histórias nacionais que se materializavam em “patrimônios nacionais” a serem protegidos da destruição, como legado de um outro tempo – passado – às gerações futuras. A noção de patrimônio pressupunha uma consciência de historicização e de ruptura com o passado. Embora a pretensão fosse de preservar a continuidade do tempo percorrido, somente um sentimento de pertencimento a um novo tempo possibilitaria a formulação da noção de conservação de algo precioso e ameaçado de perda.
Cem anos mais tarde, na virada do século XX e do milênio, a perspectiva sobre o futuro parece opor-se radicalmente àquela. O progresso, antes promissor, engendrou uma dívida com as gerações vindouras, em que a expectativa de um porvir possivelmente desastroso e trágico ganhava cada vez mais concretude.
Na atualidade, a noção de patrimônio passa a ser prioritariamente entendida como memória do futuro. O presente torna-se, assim, onipotente e
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1985, p. 224; 229.
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absoluto. Ele produz passado e futuro, num franco processo de presentificação
(Hartog, 2003).
A palavra patrimônio, na acepção dicionarizada do começo do século
XX, no Brasil, significava: “Herança paterna. Bens de família. Bens necessários para a