Para que a filosofia
CHAUÄ, Marilena. Convite Ä Filosofia. IntroduÅÇo: Para que Filosofia ? SÇo Paulo : Editora Ética, 2007. (pag. 11- 13)
Para que Filosofia?
Ora, muitos fazem uma outra pergunta: afinal, para que Filosofia? € uma pergunta interessante. N•o vemos nem ouvimos ningu‚m perguntar, por exemplo, para que matemƒtica ou f„sica? Para que geografia ou geologia? Para que hist…ria ou sociologia? Para que biologia ou psicologia? Para que astronomia ou qu„mica? Para que pintura, literatura, m†sica ou dan‡a? Mas todo mundo acha muito natural perguntar: Para que Filosofia? Em geral, essa pergunta costuma receber uma resposta irˆnica, conhecida dos estudantes de Filosofia: “A Filosofia ‚ uma ciŠncia com a qual e sem a qual o mundo permanece tal e qual”. Ou seja, a Filosofia n•o serve para nada. Por isso, se costuma chamar de “fil…sofo” algu‚m sempre distra„do, com a cabe‡a no mundo da lua, pensando e dizendo coisas que ningu‚m entende e que s•o perfeitamente in†teis. Essa pergunta, “Para que Filosofia?”, tem a sua raz•o de ser. Em nossa cultura e em nossa sociedade, costumamos considerar que alguma coisa s… tem o direito de existir se tiver alguma finalidade prƒtica, muito vis„vel e de utilidade imediata. Por isso, ningu‚m pergunta para que as ciŠncias, pois todo mundo imagina ver a utilidade das ciŠncias nos produtos da t‚cnica, isto ‚, na aplica‡•o cient„fica Œ realidade. Todo mundo tamb‚m imagina ver a utilidade das artes, tanto por causa da compra e venda das obras de arte, quanto porque nossa cultura vŠ os artistas como gŠnios que merecem ser valorizados para o elogio da humanidade. Ningu‚m, todavia, consegue ver para que serviria a Filosofia, donde dizer-se: n•o serve para coisa alguma. Parece, por‚m, que o senso comum n•o enxerga algo que os cientistas sabem muito bem. As ciŠncias pretendem ser conhecimentos verdadeiros, obtidos gra‡as a procedimentos rigorosos de pensamento; pretendem agir sobre a realidade, atrav‚s de instrumentos e objetos