para que servem as humanidades
Leyla Perrone-Moisés
Para além das causas específicas, reais ou alegadas, a crise atual da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo é sintoma de um mal-estar internacional dos estudos humanísticos.Uso aqui a palavra 'humanidades' não no sentido restrito de estudo das línguas e literaturas clássicas, mas no sentido geral dos estudos que têm o homem como objeto central de reflexão.
Desde a Idade Média até meados do século 20, os estudos humanísticos, sobretudo nas suas vertentes filosóficas e literárias, ocuparam um lugar de honra nas Universidades. O próprio conceito de Universidade implicava a aspiração a um conhecimento superior e integrativo que orientasse os caminhos dos homens. Os extraordinários avanços científicos e tecnológicos do século passado, recebidos não apenas como valiosos, mas também como prioritários, relegaram os estudos humanísticos a um lugar secundário. A globalização econômica e a consequente submissão de todos os países à lógica do mercado tendem agora a desferir o golpe definitivo contra esse tipo de estudo. Os tomadores de decisões - políticos, economistas, cientistas, tecnocratas - perguntam cada vez mais: para que servem as humanidades? Submetidas ao critério de uma utilidade imediata, identificada com um bem-estar do homem baseado apenas no acesso às conquistas da ciência e da tecnologia, assim como no bom funcionamento do mercado, as humanidades passaram a ser vistas como um luxo, uma perfumaria, uma inutilidade.
Concomitantemente, o enfraquecimento dos Estados e sua crescente racionalização econômica levaram a um questionamento do ensino público. A Universidade pública, como todos os serviços fornecidos gratuitamente pelo Estado, começou a ser vista como economicamente inviável. À semelhança das Universidades privadas, as Universidades públicas passaram a ser pensadas como empresas e submetidas a uma avaliação de custo-benefício. Tendo sempre em vista essa