Análise formal do poema "urgentemente" de eugénio de andrade
É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.
É urgente destruir certas palavras, ódio, solidão e crueldade, alguns lamentos, muitas espadas.
É urgente inventar alegria, multiplicar os beijos, as searas, é urgente descobrir rosas e rios e manhãs claras.
Cai o silêncio nos ombros e a luz impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente permanecer.
Eugénio de Andrade
Neste poema ressalta um tom apelativo: o sujeito poético lança um apelo a toda a humanidade. É logo a partir do título que ele nos atira um grito urgente em que reclama a harmonia. Esse grito percorre todo o poema: além da repetição do vocábulo "urgente", os verbos "inventar", "multiplicar" e "descobrir" sugerem, também, a necessidade de expandir o amor e contribuem para reforçar a ideia que defende desde o início - espalhar a harmonia no mundo, começando pelos homens.
Há ainda, outras expressões que remetem para a necessidade de fazer prevalecer o amor sobre a humanidade: "um barco no mar", a sugerir a salvação, uma vez que esse sentimento também pode salvar o Homem da destruição iminente; o mesmo é sugerido pelas expressões "inventar a alegria", "multiplicar os beijos, as searas", "descobrir rosas e rios / e manhãs claras" que servem para despertar a vontade de aumentar a amizade, a felicidade e a fraternidade. A última expressão simboliza ainda a beleza, a alegria e a presença do outro. O verbo "permanecer" conota a insistência e a necessidade de se construir um ambiente fraterno e amigável.
Há, todavia, muitos elementos que sugerem a oposição ao amor e que, por isso, é preciso destruir, destacando-se o "ódio / solidão e crueldade / alguns lamentos / muitas espadas", "o silêncio", a "luz impura". De facto, a negatividade que envolve este vocabulário serve para destacar a vantagem da sobreposição do amor, em detrimento destes aspectos negativos que ameaçam o mundo. E se estes vocábulos sugerem o disfórico, os verbos também adquirem valores