Palavra e discurso
Ana Carla Carneiro Rio[1]
Resumo: O presente artigo ressalta o papel da palavra na sociedade oitocentista maranhense, com enfoque no romance feminino Úrsula da autora Maria Firmina dos Reis, demonstrando que as palavras têm vida, vestem-se de significações, camuflam e se contagiam umas com as outras. O discurso da autora focaliza a problemática racial e de gênero, fazendo uma abordagem correlacional entre o comportamento do sujeito concreto do século XIX e os personagens ficcionais. Assim, o discurso literário aparece como matéria-prima e pressuposto para documentar a realidade histórica social brasileira. Este trabalho procura discutir a dimensão do processo e reprodução de palavras, buscando caminhos que indiquem a construção de sentidos novos, reafirmando velhos sentidos. Assim, será feito um intercâmbio entre história e literatura, dando uma dimensão do que foi, tirando-nos o véu do futuro, permitindo, nesse percurso, que seja produzido outras significações e novas ações.
Palavras-Chave: Palavra. Discurso. História-Literatura. Maria Firmina Dos Reis.
1. INTRODUÇÃO
Maria Firmina dos Reis é um nome sem revelação dentro da história literária. Em 1859, no período escravagista, momento em que a população negra e feminina é colocada como incapaz de tratar qualquer questão de opinião pública, uma mulher afro-descendente, nordestina, maranhense e de origem humilde, escreve um romance, escancarando as condições que o negro e a mulher estavam submetidos na sociedade brasileira do século XIX. Dessa forma, propõe-se uma nova visão aos estudos literários, haja visto que é revelada a presença de uma escritora negra em pleno século XIX no Brasil, numa sociedade marcada pelo patriarcalismo. Em 1859, Maria Firmina dos Reis publicou seu romance Úrsula, e se apresentou à imprensa como escritora de poemas, contos e ainda compositora de uma letra