paixão do homem e de Cristo
Sartre certa vez disse que “a paixão do homem é inversa à de Cristo”, apontando assim, para uma dupla condenação, a de Cristo pela necessidade e a do homem pela contingência. Cristo nasceu para a cruz, sua única conduta possível era atuar no papel que lhe fora escrito: nascer numa família pobre, aprender a carpintaria, realizar feitos extraordinários e necessariamente padecer, pelos pregos e pela lança. Seu destino se cumpriria a despeito de sua vontade, regido pelo mando de seu Pai. Convém lembrar que Deus não pode ser contrariado, agir contra sua vontade resultaria numa fenda em sua onipotência, obviamente uma impossibilidade teológica.
Cristo nasceu condenado a trinta e três anos de cárcere. Imagine você, leitor, ter cada gesto seu determinado antes mesmo que o realize, viver toda uma vida incapaz de escolher; eis a prisão de Cristo, condenado a cumprir a vida, a ser o eterno efeito de uma causa inevitável. Porém, a despeito do fim trágico, Jesus desfrutou da mais plena segurança, tendo cada instante seu guardado por Deus num futuro certo e conhecido. Sem dúvida, um alento, à total ausência de liberdade.
Por outro lado, o homem, enquanto gênero, nasce diante de um leque de possibilidades tão amplo e constante quanto seu horizonte, condenado a escolher em cada ato, o homem que será. Não há para o homem um roteiro prévio, que o anteceda e o guie. O roteiro é criado em ato. Escolher é inevitável. Mesmo sob coação o homem precisa escolher. Ainda que com um revólver apontado à cabeça será preciso decidir entre resistir ou resignar-se.
A escolha nos prende ao devir. O futuro é vazio e aguarda ser criado.
Numa tentativa de fugir a essa angústia o homem inveja ao Cristo e almeja escapar à escolha. Passa a acreditar em destino e “aceitar” que tudo está escrito, pois se assim for, a vida só poderia ser tal como foi e o futuro só poderá ser tal como será. Deus é o ser no qual mais comumente se busca esse conforto, pois se tudo que é, o